segunda-feira, 28 de julho de 2008

Meus cinquentinha em Belém

Hoje estréio meus cinquentinha e não poderia ter escolhido melhor lugar pra comemorar. A cervejinha com os amigos de Sampa vai ficar pra volta. Belém é um lugar especial. Ar limpo, muitos espaços amplos, serpinha gelada, peixes de primeira e a coisa que eu mais adoro: carangueijo. Ontem comi um monte com uns amigos daqui num tal de Dedão. Que mais alguém pode desejar?

A cidade vive um momento de urbanização das áreas à beira do rio Guajará que acompanha a orla de Belém. O que já foi feito até agora é impressioante. A revitalização da área das docas, ao estilo Puerto Madero de Buenos Aires, a criação de áreas como o Ver o Rio e do Mangal das Garças, criou espaços de lazer e de orgulho para os paraenses. Qual é o primeiro lugar que o paraense apresenta ao turista rccém-chegado? As docas. Ali está reunido o que existe de mais moderno da cidade. Os melhores restaurantes e bares, as lojas de artesanato, as saídas dos passeios de barco. O que os paraenses dizem é que até então ninguém olhava para o rio porque não havia uma janela pra isso. Agora, tem um monte delas.

Outra área linda, é o Mangal das Garças. Uma área enorme, beirando o mesmo rio. Ali, além de um celeiro permanente de garças brancas, existe um orquidário, um borboletário e áreas livres muito bem cuidadas. O restaurante Manjar das Garças é um espaço todo integrado ao parque. Muito bem montado.

bem, e as fotos? O blogger tá se fazendo de difícil. Fico devendo.

sábado, 26 de julho de 2008

Minhas andanças pelo Ver-o-peso

O Blogger fez as pazes comigo e agora já consigo postar algumas fotos que fiz no mercado.

A turma do açaí se movimenta de madrugada. Às 6 da manhã, não tem mais nada. Parece que ali não aconteceu nada. Esse açaí da foto foi de uma descarga extra. Só um barco. É inimaginável o volume movimentado diariamente. Não tenho os números, mas o consumo é um negócio absurdo. A qualquer hora do dia ou da noite a gente encontra os paraenses tomando açaí, seja com peixe frito, seja com farinha de tapioca. E tem ainda o suco, os sorvetes, os bolos, os doces etc.


Os cestos são utilizados pra quase tudo. Muitos produtos chegam ao mercado embalados neles. É o caso do jambo rosa e do camarão seco. Não é lindo?





Agora, os personagens do mercado são demais.


Esses dois aí são o Abel e o Galo, da esquerda pra direita. O primeiro, se diz "o maior lutador de caratê". O segundo, é seu empresário. Diz que nem o professor Myagui conseguiria derrotar seu agenciado. É muita confiança. Peça rara é o que não falta.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Acho que já posso morrer


Quem já não passou por uma situação boa o bastante pra pensar que já poderia morrer?

Pois é, escrevi isso aqui agorinha, em Belém, pensando exatamente sobre isso:

É difícil descrever essa sensação. São seis e meia da tarde. Depois de um dia muito, mas muito quente, acaba de chover e sopra uma brisa fresca do rio que balança as folhas de dois açaizeiros plantados no jardim. Estou sentada num boteco, olhando o rio, tomando um chopp e esperando chegar uma porção de iscas de filhote (um peixe daqui). Acaba de passar na minha frente um barco todo iluminado.

Bem, chegou o filhote. Dá licença.

As panturrilhas da andariha pedem arrego!

O calor é dos diabos, mas Belém é dos deuses. Meu dia começa cedinho, lá pelas 6 horas da manhã. Fico zanzando e conversando com as pessoas no mercado do Ver-o-peso. Cedinho é o melhor horário pra fotografar. No meio da manhã o sol já tá trincando. O mercado é incrível. Parece que você está dentro de um caleidoscópio; gira, gira, gira e pra onde olha tem coisa diferente e bonita pra olhar.

A turma do açaí começa de madrugada, com a chegada dos barcos. Às 6 da manhã, não tem mais nada. Parece que ali não aconteceu nada. A variedade de coisas que se vende no mercado é incrível. Nas barracas de peixes secos tem pirarucu, pescada branca, pescada amarela, tainha, dourada etc. A quantidade de vendedores de camarão seco também é muito grande. Afinal, ele é ingrediente imprescindível no tacacá, que se toma todas as tardes, bem quente, que é pra amainar o calor. Tem sua lógica. Uma amiga de coração marroquino diz que no Marrocos se toma chá bem quente pra suportar o calor. É parecido, né?

As fotos fico devendo, a conexão é lentiummmmmm... e quanto termina de carregar uma foto, o blogger avisa que houve um erro. Bom demais.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O centenário de Solano Trindade em Embu das Artes

Pra quem fica em São Paulo, sugiro um programa legal. Em Embu, acontece durante todo o mês de julho as festividades pelo centenário do poeta Solano Trindade. Ele nasceu em Recife, no dia 24 de julho de 1908, mas depois de muitas andanças Brasil afora, foi bater no Embu. Ele adotou a cidade e foi adotado por ela. É um dos responsáveis pelo movimento que transformou a cidade em um pólo de artes, ganhando o nome de Embu das Artes.

Na programação da festa, os finais de semana são os dias mais movimentados, com inúmeros grupos de música, teatro etc. se apresentando no Teatro Popular Solano Trindade e na feira.

Nove restaurantes se incorporaram às comemorações e integram o 2° Festival Gastronômico de Inverno - "Aromas e sabores inspirados nas poesias de Solano Trindade". Cada um deles oferece pratos batizados com nomes de poesias de Trindade. Veja quais são - restaurante/prato/poesia: Buenos Aires/Puchero Criollo "O canto da Liberdade", Cabana do Embu/Tutu à "Mineirinho", Empório São Pedro/Confit de Pato "A Velhinha do Angu", Hannover/Chucrut Garni à "Medida", O Garimpo/Feijoada Pernambucana "Canto à Mesa Creoula", Os Girassóis/Filet à parmegiana em "Poesia da Tarde de Sol", Rosa Mundo/Muqueca à "Baianinha", Tutu's Restaurante/Virado de feijão preto "Seios de negra", Vila Showpana/Salmão ao molho de maracujá "Meu Canto ao Mar"

O que é que o Ver-o-peso tem?

As rodinhas da andarilha vão entrar em ação de novo. Agora vou pra Belém, no Pará. Mais especificamente, ao Mercado do Ver-o-peso, que um dia já foi Haver-o-peso. O que é que tem lá? Um mundo inteiro. Vou aproveitar alguns dias pra "vasculhar" o mundo dos temperos e condimentos da cozinha paraense. Afinal, dizem as boas línguas, a culinária do Pará é a mais original do país porque mantém as raízes indígenas. E não só nos ingredientes, mas também no modo de fazer. Utensílios como o tipiti (uma espécie de peneira redonda e comprida) é usado até hoje para espremer a mandioca ralada e extrair o líquido; este por sua vez, depois de cozido com alho e pimenta, vira o tucupi, o famoso molho utilizado em pratos como o pato no tucupi. Parece um outro Brasil, ou ali seria o Brasil verdadeiro? Vou ver e depois conto.

Por sugestão de um professor Ricardo Maranhão, vi o filme Comedores de Mandioca, dirigido por Ricardo Miranda e que faz parte da série Mesa Brasileira (exibida pela TV Cultura há alguns anos). É sensacional. Me deu uma prévia do que vou encontrar por lá. Vou me perder no meio de tantas frutas, pimentas e peixes.

A única coisa que me deixa encanada, é o calor. Esse sim é uma temeridade!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Festival das cerejeiras no Horto Florestal


O Horto Florestal de São Paulo faz todos os anos o Festival das cerejeiras. Este ano o frio chegou antes do tempo e as crerejeiras ainda não estão todas floridas. Uma pena. O pessoal do Horto avisa que daqui a duas semanas elas estarão 100% em flor. Por enquanto elas estão como esta da foto.


O Horto é um lugar muito bonito. Quem mora na zona Norte da cidade aproveita. Muito espaço, pássaros, animais e aves soltos, muito verde.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Festival das estrelas


No final de semana aconteceu o Tanabata Matsuri, o festival das estrelas. A Liberdade tomada de gente pendurando seus pedidos nos pés de bambu. Vejam aqui qual foi o campeão dos pedidos:


domingo, 13 de julho de 2008

Engessando a internet

Li o esclarecedor artigo "Então, somos todos criminosos" de Ronaldo Lemos no caderno ALIÁS, do Estadão de hoje, sobre o projeto de lei aprovado pelo Senado que criminaliza práticas virtuais na internet. Lemos é do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-RJ e um dos maiores especialistas brasileiros em licenciamentos e direito relacionado à internet. Ele enfatiza que o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo pretenderia combater a pedofilia na rede, mas o que se conseguiu foi uma a criminalização de práticas virtuais como desbloquear um celular e baixar músicas no iPod, mesmo que pagas. Dos 40 artigos da lei, somente um trataria de pedofilia. Para Lemos, faltou debate no país. O professor Sérgio Amadeu, apaixonado defensor da inclusão digital no país concorda com isso. Fez campanha contra a aprovação do projeto de lei, mas foi derrotado.

Ronaldo Lemos lamenta: praticamente a toque-de-caixa (em se tratando do nosso Congresso) aprovou-se uma lei que vai tratar todos os problemas da internet sob a ótica criminal, e não civel, porque o Brasil não conta com regulamentação para temas como privacidade online, regime de proteção aos dados pessoais, salvaguardas e responsabilidades dos povedores, comércio eletrônico e serviços online. E ele conclui o artigo com a constatação de que para o Brasil aproveitar a nova onda de desenvolvimento trazida pela sociedade de informação, seriam necessárias regras claras, previsíveis juridicamente, o que garantiria segurança para usuários, empreendedores e provedores de serviço e acesso. E ele pergunta: "Quem se arrisca a desenvolver novas formas de processar informação, realizar novos tipos de conexão entre os dados digitais, se o risco incorrido é regulado pela lei criminal?"

Quem quiser conhecer as idéias de Ronaldo Lemos pode ler o bate-papo publicado no site softwarelivre.org, no qual ele fala principalmente sobre o Creative Commons (direitos autorais e licenças de uso do conteúdo da internet) e a entrevista A revolução pela informação dada à revista Teoria e Debate.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Bolo-de-rolo e bolo Souza Leão viram patrimônio cultural e imaterial


Agora os pernambucanos já podem dormir tranqüilos: o bolo-de-rolo e o famoso Souza Leão já são patrimônio cultural e imaterial. Essa é uma notícia que agradaria a Gilberto Freyre. Agora, essas duas delícias se juntam ao acarajé, que já foi proclamado. O bolo-de-rolo já é vendido em São Paulo, mas nem de longe se parece com aquele feito em Recife. Pra quem ainda não conhece, ele é aquele rocambole com camadas finíssimas de pão-de-ló, recheadas com goiabada. Deve ser cortado em fatias bem finas. Delicioso. Recentemente Tania Bacelar trouxe um bolo-de-rolo pra uma reunião (vejam a foto). Foi um deleite só. Literalmente, comemos suspirando. Na Bienal do Livro de Pernambuco do ano passado, quase aprendi a fazer o bolo com a Luciana Sultanum, doceira de mão cheia da Casa dos Frios, mas perdi a chance porque a produção era demorada demais pra uma oficina gastronômica e ela resolveu ensinar a fazer diversos doces com maçã. Quem sabe um dia...

Vi no Cybercook que o Souza Leão recebeu este nome porque a receita original seria de dona Rita de Cássia Souza Leão, senhora do engenho São Bartolomeu, que teria resolvido não utilizar nenhum ingrediente que tivesse vindo de Portugal. Assim, a receita teria ganho a farinha puba, de mandioca, a manteiga fabricada no engenho e o leite de coco. Há controvérias nessa versão da origem do bolo, porque atualmente haveria em Pernambuco umas 10 receitas diferentes do bolo. Muitos paulistas e paulistanos não gostam da textura do Souza Leão (não é o meu caso, claro), porque ele é meio "embatumado", que no jargão culinário quer dizer consistência pesada (como se tivesse faltado fermento na massa).

Dizem que gosto não se discute, mas pra quem ainda não conhece os dois bolos, garanto que vale a pena experimentar.

O amigo do Che

Acabo de ver este livro de fotografia que a Escrituras Editora lançou no mercado. É lindo, tem mais de 300 fotos de Fidel Castro, numa versão biografia fotográfica, com imagens de diversas situações e períodos da vida dele, principalmente aquela vivida ao lado do amigo Che na Sierra Maestra, nas ruas de Havana, nas reuniões do Partido etc. Mas também estão ali fotos do Fidel estudante, do apaixonado pela vida política acadêmica, do ativista do Partido Ortodoxo, do estadista e do amigo.

O Fidel é, sem dúvida, uma das figuras mais controversas dos últimos tempos, mas invegavelmente é um dos mais importantes líderes do mundo. Há muitos anos estive em Cuba num 1° de Maio. Foi um dos momentos que mais me marcaram na minha "curta" vida. É impressionante. Me parece que se hoje a população passa a exigir um novo modo de administrar a ilha, por outro lado, essa mesma população, os adultos principalmente, têm muito claro que não querem voltar ao modelo de Fulgêncio Batista. Neste exato momento Cuba passa por uma transição política. O que o futuro reserva? Só esperando pra ver.

Sobre o amigo, Gabriel García Márquez disse: “Fidel Castro tem a convicção quase mística de que a maior conquista do ser humano é a boa formação de sua consciência, e que os estímulos morais, mais que os materiais, são capazes de mudar o mundo e impulsionar a História. Creio que ele é um dos grandes idealistas do nosso tempo, e que talvez esta seja sua maior virtude, ainda que, para ele, tenha sido o maior perigo.”


Serviço
Fidel Castro - história e imagem do líder máximo / original (italiano): Fidel Castro - storia e immagini del líder maximo
Valéria Manferto de Fabianis (org.), texto de Luciano Garibaldi e tradução de Maurício Santana Dias
Preço: R$ 98,90
Escrituras Editora

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Che, o maior dos andrilhos


Che Guevara é outro que partiu para o mundo. E encontrou muito mais que a liberdade; encontrou a eternidade. Eduardo Galeano, no texto Nossa região é o reino dos paradoxos que leu ao receber o titulo de Cidadão ilustre do Mercosul, fala de Che:

"...

E, pulando a cordilheira, me pergunto: Por que será que Che Guevara, o argentino mais famoso de todos os tempos, o mais universal dos latino-americanos, tem o costume de continuar nascendo? Paradoxalmente, quanto mais o manipulam, quanto mais o traem, mais nasce. Ele é o mais nascedor de todos.

E me pergunto: não será porque ele dizia o que pensava e fazia o que dizia? Não será por isso que continua sendo tão extraordinário neste mundo onde as palavras e os fatos muito raramente se encontram, e quando se encontram não se cumprimentam porque não se reconhecem?"

Na natureza selvagem


Depois de muito adiar, peguei na locadora e assisti ao filme do Sean Penn, Na natureza selvagem. Já tinha me deliciado com a música do filme, composta pelo Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, e ouvido falar muito na história do jovem que larga tudo e vai para o Alasca em busca de si mesmo, da felicidade e de outras coisas que julgava não ter ali na sua cidade, na casa da família, na faculdade. Paisagens belíssimas servem de fundo pra essa história que deve se repetir diariamente em todas as partes do mundo.

Assistindo ao filme, me veio à memória a história do homem de mais de 70 anos que ao saber que seu irmão estava doente, subiu no seu cortador de grama - por falta de dinheiro pra comprar uma passagem de ônibus -, e cruzou os Estados Unidos para encontrá-lo. Ao longo do percurso, as pessoas e situações com as quais ele se depara nesse caminho resultaram em histórias fantásticas, de curiosidade, de solidariedade e amizade. E, é claro, o medo de não chegar a tempo para fazer as pazes com o irmão, com quem havia brigado e estava separado há mais de 10 anos. A história e a forma simples que o diretor David Lynch encontrou para contá-la ficou marcada na mente de milhões de pessoas que assistiram ao filme.

Em Na natureza selvagem a história também é recheada de encontros e desencontros, e principalmente de gente à procura da própria felicidade. Ao final, fiquei me perguntando se é mesmo preciso largar tudo pra encontrar a felicidade. Eu mesma, no auge da "infelicidade", quando as coisas todas estavam dando errado, fui buscar meu caminho longe de São Paulo, longe da família e dos amigos. Se tivesse ficado, talvez tivesse chegado ao ponto que cheguei hoje, mas teria levado muito mais tempo. Acho que ver a situação do lado de fora foi a melhor coisa que me aconteceu. No fim, chegamos à conclusão que algumas coisas são imutáveis e que é preciso aceitá-las como elas são, mesmo que não concordemos com elas.

Abaixo, a letra da música Pedindo carona, composta pelo Eddie Vedder, enviada por uma amiga querida:

Eu não estive em casa desde que você foi embora tempos atrás
Eu estou pedindo carona de volta ao paraíso
Contando os passos, caminhando para trás na estrada
Eu estou contando meu caminho de volta ao paraíso
Eu não posso ser livre com o que está preso dentro de mim
Se existe uma chave, você levou em sua mão
Não existe errado e certo, mas tenho certeza de que existe bom e mau
As perguntas persistem por aí
Não importa quão frio seja o inverno, há uma primavera adiante
Eu estou pedindo carona de volta ao paraíso
Eu queria poder segurar você
Eu queria ter pensado sobre o paraíso
Eu soltei uma corda, pensando que ela me segurava
E a tempo eu percebi, ela agora está enrolada no meu pescoço
Eu não consigo ver o que está adiante, nesta passagem solitária
Abaixo a cabeça e conto meus passos, como outro carro vai adiante
Nós ignoramos pelas nossas vidas todos os sinais corroídos
Em vez deles escolhemos os que brilham
Eu mudei minha direção, agora não há volta
Não importa quão frio seja o inverno, há uma primavera adiante
Eu sorrio, mas quem estou enganando?
Eu estou percorrendo as milhas, a primeira vez em um tempo eu pego uma carona
Eu estou pedindo carona de volta ao paraíso
pedindo carona de volta ao paraíso
Eu estou pedindo carona de volta ao paraíso

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Os invisíveis

Nos dias de frio, como passar pelos que dormem na rua e fingir que não estamos vendo nada? Dizem que os moradores de rua são os "invisíveis", são aqueles que as pessoas vêem, mas de fato não estão vendo. Difícil de entender? É um pouco assim: a gente resiste a ter que encarar que ali está uma pessoa, um ser humano como nós. Que fazer ao passar, se não vamos parar para conversar, nem vamos levá-lo pra nossa casa? Oferecer comida? Uma blusa? Um livro?

É uma das situações mais difíceis do dia-a-dia na cidade grande. Tenho a impressão de os moradores de rua são a prova mais cruel de que falhamos no quesito igualdade, solidariedade, direitos iguais. Se ainda é possível um mundo diferente e para todos? Não sei. A cada Fórum Social Mundial vejo milhares de iniciativas de ONGs e de governos voltados a diminuir as desigualdades sociais, mas no dia-a-dia, parece que estamos perdendo a batalha. E não falo do Brasil, mas do mundo.

Vejo iniciativas muito positivas como a da irmã Ivete, da Organização do Auxílio Fraterno, que além de abrigar moradores de rua, trabalha para resgatar a auto-estima deles, e, se esse for o caso, reinseri-los no mercado de trabalho. Na casa onde trabalha, a irmã Ivete tem uma oficina de marcenaria e mosaico. Emprega moradores de rua que transformam coisas catadas no lixo em verdadeiras obras de arte. Uma porta pode virar um espelho, uma cabeceira de cama; um aro de pneu pode virar uma banqueta. E por aí vai. Criaram a Casa Cor da Rua, ao lado da oficina (que fica no Baixada do Glicério, em São Paulo) pra expor os trabalhos, vender, e gerar renda pra reempregar no trabalho. É um lugar que vale a pena conhecer: fica na Rua dos Estudantes, 491 (a umas três quadras do Metrô Liberdade).

Mas o que mais ajuda os moradores de rua, são os ouvidos da Ivete. Por ter vivido 35 anos com os moradores na rua, ela é considerada uma irmã de verdade. Eles chegam pra contar seus problemas, seus progressos, suas alegrias. O nascimento de um filho, o emprego recém-conquistado, a recaída. Ali é assim : a roda gira o tempo todo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um dia abençoado. Não pergunte por quem!


Já tinha até esquecido que todo dia 29 muitos lugares oferecem nhoque, mas uma amiga me convidou para conhecer a Confraria do Nhoque, que é tocada pela Ariela, do restaurante Tanger.

A confraria se reúne, é claro, no dia 29 de cada mês, na casa da Ariela e do Caio (e do Felipe, o pimpolho). Dessa vez, um domingão ensolarado, ela reuniu a turma para o almoço. Cardápio? Uma sopa de entrada (velouté de agrião e camarão), os nhoques malfattis, do sul da Itália (espinafre, ricota e parmesão) e pudim de castanhas-do-pará com sorvete de creme de sobremesa. Tudo muito bom.

As mesas estavam dispostas no quintal. Lindo. Florido, ensolarado.
Cerveja gelada, vinho pra quem se aventurou, apesar do calor, e conversa boa. Os detalhes estão aí pelas fotos.

Vale uma visita ao site.

A briga tá quente

O debate sobre a lei seca tá interessante. Numa entrevista para o Estadão de domingo, Drauzio Varela, afirmou que é dever do Estado proteger o cidadão contra o mal que terceiros possam fazer contra ele. Bebe-se mais hoje? Sim. Segundo Varela, hoje o número de jovens é maior; muitos jovens recebem mesadas; o poder aquisitivo aumentou; as mulheres passaram a beber, deixando pra traz a repressão social forte que havia; e finalmente, a publicidade de bebidas, está voltada para os jovens.

Já o Josimar Melo acha que a lei é resultado de um movimento moral de reacionários e de xiitas, e que ela só vai aumentar a pequena corrupção do dia-a-dia, ou seja, para não ser preso, o motorista pagaria para o guarda na hora em que fosse parado pela blitz. As consequências da lei? 1° - atacar uma tradição cultural da humanidade, a de beber socialmente, de confraternizar com a bebida; 2° - somente os ricos que puderem pagar táxi ou motorista particular poderão continuar com seu hábito de beber fora, ou seja, será preservado somente para a elite; 3 - o incentivo ao crime e à corrupção. Ouço até o lamento dele ao escrever "Assim caminha, para trás, a humanidade."

Alguns estão pensando que eu sou contra a lei, mas não sou. Acho que é preciso haver um limite. Só acho rigorosa demais. Todas as medidas restritivas são mal vistas e causam estranheza no início. Lembram do rodízio de carros? Depois de um tempo as pessoas se acostumam. Hoje vemos que sem o rodízio, a vida em São Paulo seria inviável.

Como não tenho carro - por opção -, a situação é mais simples pra mim, mas é uma boa hora pras pessoas pararem pra pensar se precisam tanto de um carro. Talvez seja hora de se proporem a uma readaptação e deixar o carro em casa de vez em quando. Quem sabe isso não ajuda a melhorar as condições de vida em São Paulo: menos trânsito, menos poluição, menos estresse.

Cada vez mais tenho tentado simplificar minha vida. Hoje cancelei um dos cartões de crédito. Vitória. Um único cartão de crédito, uma única conta bancária. Ideal mesmo, seria não precisar nem de um, nem de outro.