sexta-feira, 4 de julho de 2008

Os invisíveis

Nos dias de frio, como passar pelos que dormem na rua e fingir que não estamos vendo nada? Dizem que os moradores de rua são os "invisíveis", são aqueles que as pessoas vêem, mas de fato não estão vendo. Difícil de entender? É um pouco assim: a gente resiste a ter que encarar que ali está uma pessoa, um ser humano como nós. Que fazer ao passar, se não vamos parar para conversar, nem vamos levá-lo pra nossa casa? Oferecer comida? Uma blusa? Um livro?

É uma das situações mais difíceis do dia-a-dia na cidade grande. Tenho a impressão de os moradores de rua são a prova mais cruel de que falhamos no quesito igualdade, solidariedade, direitos iguais. Se ainda é possível um mundo diferente e para todos? Não sei. A cada Fórum Social Mundial vejo milhares de iniciativas de ONGs e de governos voltados a diminuir as desigualdades sociais, mas no dia-a-dia, parece que estamos perdendo a batalha. E não falo do Brasil, mas do mundo.

Vejo iniciativas muito positivas como a da irmã Ivete, da Organização do Auxílio Fraterno, que além de abrigar moradores de rua, trabalha para resgatar a auto-estima deles, e, se esse for o caso, reinseri-los no mercado de trabalho. Na casa onde trabalha, a irmã Ivete tem uma oficina de marcenaria e mosaico. Emprega moradores de rua que transformam coisas catadas no lixo em verdadeiras obras de arte. Uma porta pode virar um espelho, uma cabeceira de cama; um aro de pneu pode virar uma banqueta. E por aí vai. Criaram a Casa Cor da Rua, ao lado da oficina (que fica no Baixada do Glicério, em São Paulo) pra expor os trabalhos, vender, e gerar renda pra reempregar no trabalho. É um lugar que vale a pena conhecer: fica na Rua dos Estudantes, 491 (a umas três quadras do Metrô Liberdade).

Mas o que mais ajuda os moradores de rua, são os ouvidos da Ivete. Por ter vivido 35 anos com os moradores na rua, ela é considerada uma irmã de verdade. Eles chegam pra contar seus problemas, seus progressos, suas alegrias. O nascimento de um filho, o emprego recém-conquistado, a recaída. Ali é assim : a roda gira o tempo todo.

Um comentário:

Francine Esqueda disse...

Olá, Ainda estou maravilhada com as coisas que ainda não tinha visto por aqui! De coração: Gosto muito da sua casa!!!
Um grande abraço e boa semana!