segunda-feira, 31 de março de 2008

Chega dói

Recebi e-mail de uma goiana amiga. Ela envia um breve dicionário goianês. Descobri que o equivalente goiano para o nosso “Orra meu!” paulistano é o “Ow, deixa eu te falar”. Então fica assim: no lugar de “Orra meu, lembra aquele negócio que eu te pedi...?” Diga-se: "Ow, deixa eu te falar, lembra aquele negócio que eu te pedi...?”.

E tem mais:
- “chega dói” - equivalente a chega a doer. Pode ser usado de outras formas: chega machuca; chega engasga; chega arranha etc.

- uai – a exemplo do mineiro, não tem sentido nenhum, não pretende contestar nada. é usado normalmente em respostas. Se alguém pergunta “Goiano, você vai à festa hoje?”, a resposta: “Uai, vou!”.

Tá boa? - equivale a 'Tudo bem?' usado para mulheres.

Bão mesmo? - é pra confirmar se o sujeito tá bão mesmo ou se está fingindo.

Pit Dog – definido como uma espécie de filho bastardo de uma lanchonete com uma barraquinha de cachorro-quente. Dizem que os sanduíches são bons.

Queijim - Rotatória.

Tem base? - entenda-se 'Pode uma coisa dessas?'

Anêim - Algo que parece ter vindo de 'Ah, não!', que virou 'Ah, nem!'

Arvrinha - Árvore pequena.

Arvrona - Árvore grande.

Madurar - Amadurecer.

Corguim - Lê-se córrr-guim. Diminutivo de corgo (que vem a ser um córrego).

Num dô conta - Pode ser traduzido como Não consigo, Não sei, não
quero, não gosto, etc.

De sal – é igual a salgado. pamonha de Sal, por exemplo

sexta-feira, 28 de março de 2008

Um dia de muitas fúrias

Tem mais gente atacada na cidade do que imagina o cidadão comum. Nos jornais de hoje, dois casos de violência gratuita são comentados, e atribuídos à doideira do trânsito de São Paulo. Seriam o trânsito caótico e o excesso de carros os únicos responsáveis por essas demonstrações de violência? Ora, os jornais tratam as pessoas como se elas fossem só motoristas na vida. Os outros problemas não contam. Será? A pessoa tá na pior: a mulher não quer saber de sexo, o marido arrumou uma amante novinha, o cheque especial estourando, a sogra infernizando, o cunhado tirando o maior sarro pelo rebaixamento do seu time, os filhos pedindo coisas cada vez mais sofisticadas e caras, o colega de trabalho na espreita pra puxar o tapete, o chefe que não larga do pé, a gastrite atacando, a mãe exigindo atenção, as metas impossíveis que a empresa impôs...

Enfim, não tem fim a lista de problemas que as pessoas enfrentam no dia-a-dia e que provocam uma sobrecarga que nem todo mundo tá preparado pra enfrentar. E é óbvio que não dá pra computar tudo na conta do trânsito, não é mesmo? É simplificar demais a coisa. E quem mora numa cidade pacata? Não tem direito a um ataque de fúria de vez em quando?

Lembram do Michael Douglas no seu dia de fúria? Teria sido o trânsito?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Almodóvar, o mais novo blogueiro


Demorou, mas ele chegou na blogosfera. O diretor de Kika, Volver, A má educação, Fale com ela, Ata-me!, Matador e tantos outros, acaba de criar um blog onde pretende colocar fotos, histórias sobre seus filmes e roteiros. Pedro Almodóvar fala no primeiro post sobre o roteiro de “Los abrazos rotos”, terminado em outubro do ano passado e que agora já se encontra na sexta versão. Na foto ele aparece reescrevendo o roteiro frente ao Atlântico.

Num texto cheio de reminiscências, ele também discorre sobre suas impressões sobre cinema, atrizes e diretores, partindo da notícia sobre a morte de Débora Kerr, ocorrida na mesma semana em que terminou o roteiro. Tenesse Willimas, Richard Burton, Penélope Cruz, Blanca Portillo, José Luis Gómez Fellini, Berlanga, Chavela Vargas, Bibiana Fernández, Jeanne Moreau, Antonioni, Pina Baush, Misha Barisnikov e outros passeiam pelo texto.

Sobre o blog, ele diz que pretende continuar escrevendo, pelo menos até terminar as filmagens, e que ele servirá de distração e de recordação para o futuro, mas que isso vai servir também para aumentar seu estresse e sua angústia, porque nas suas palavras e parodiando sua mãe, não tem tempo nem mesmo para “limpiarme el culo”.

E sobre o próximo filme, ele disse que dos abraços eternos, como aqueles fotografados num determinado momento e eternizados, aqueles impossíveis de serem roubados.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O que é preciso pra ser uma parisiense?

Sabe aquela foto da mulher num café parisiense, sentada a uma mesa e lendo seu livrinho? Pois tenho uma amiga que adotou São Paulo pra viver e consegue fazer dos lugares mais inusitados a sua mesinha de café parisiense. Tá certo que até algum tempo atrás ela pensava em viver na França. Até que foi dar uma voltinha por lá e viu que o bolso era pequeno demais pra isso. Descobri que ela marca pra almoçar com os amigos e chega uma hora antes. Ocupa a mesa, abre seu livrinho e fica ali, viajando nas histórias, bebericando sua cervejinha até ser interrompida por alguém que chega para o almoço. Já vi essa cena no Sujinho, no Canto Madalena, no Paralelo 1227, no Porto Brasil e outros bares. Daí me pergunto: será que é preciso mesmo estar em Paris pra se sentir um parisiense?

quinta-feira, 20 de março de 2008

A gororoba geral que é a culinária brasileira


Estou fazendo uma pesquisa sobre comida italiana pra faculdade. Entre uma leitura e outra, fui conversar com "seu" Angelo, da Cantina Capuano, que está há 101 anos na rua Conselheiro Carrão, no Bexiga. Freqüentava o lugar quando estava na faculdade, nos idos dos 70. "Seu" Angelo, o proprietário que assumiu em 1962 contou que a avó dele nasceu em 1858, casou aos 14 anos com o avô dele, ainda na Itália, e vieram para o Brasil. Se instalaram em Maceió. Até tentei falar sobre a comida italiana, mas não fui bem sucedida. Ele fez questão de repetir que na mesa da família não faltava feijoada toda semana. Bem, resultado dessa travessia dos avós pelos mares: depois de completar a conta do 13° filho, a nona voltou pra Itália. E os filhos que ficaram por aqui tinham que mandar latas de feijoada pra ela todos os meses.

Da época do descobrimento pra cá, o que aconteceu no Brasil foi a mistura entre o que existia dos costumes indígenas com aqueles trazidos pelos portugueses e logo à frente, com o que os escravos trouxeram da África. Na sequência, vimos a chegada em massa dos imigrantes italianos e japoneses, seguidos de alemães, espanhóis, libaneses, etc., cada qual trazendo seu modo de fazer suas comidas e misturando seus ingredientes com o que encontravam na nova terra. O que vemos nas mesas hoje é essa gororoba geral, com algumas misturas até então muito estranhas ao paladar brasileiro como pizza de banana, crostini de shitake, salada de radicchio com manga, o panetone recheado de sorvete e outras invenções.

Mas muitos imigrantes preservaram seus costumes e hoje são alvo de estudos de universidades de suas terras de origem. Fechados em colônias mantiveram seus dialetos, sua culinária, suas festas religiosas. Passaram essas tradições de pai pra filho, de mãe pra filha, e, assim, até hoje pode-se ver um jeito de fazer as coisas há muito tempo perdido na Itália ou no Japão, só pra ficar nesses dois exemplos.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mino Carta acaba com seu blog em solidariedade a Amorim


Este é o último post do Mino:

19/03/2008 12:54

“O último post
Meu blog no iG acaba com este post. Solidarizo-me com Paulo Henrique Amorim por razões que transcendem a nossa amizade de 41 anos. O abrupto rompimento do contrato que ligava o jornalista ao portal ecoa situações inaceitáveis que tanto Paulo Henrique quanto eu conhecemos de sobejo, de sorte a lhes entender os motivos em um piscar de olhos. Não me permitirei conjecturas em relação ao poder mais alto que se alevanta e exige o afastamento. O leque das possibilidades não é, porém, muito amplo. Basta averiguar quais foram os alvos das críticas negativas de Paulo Henrique neste tempo de Conversa Afiada.”

IG tira Paulo Henrique Amorim do ar

E não é que o IG tirou do ar o blog Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim sem qualquer explicação? Não é fácil esse mundo de blogueiros que têm coragem de expor os podres e as pretensões da imprensa tradicional brasileira. No meu último post, eu coloquei um trecho do discurso que o Lula leu no encontro da Economist, postado no Conversa Afiada e ignorado pela grande imprensa. A partir de agora ele vai colocar seus textos no próprio site www.paulohenriqueamorim.com.br .

Amorim vinha diariamente atacando a imprensa tradicional que ele passou a chamar de PIG – o Partido da Imprensa Golpista, que segundo ele, desde que Lula assumiu a presidência tem dois objetivos: sua desestabilização e sua derrubada.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Governar para os ricos é mais fácil

Este é um trecho do discurso que o presidente Lula fez na semana passada, dia 12 de março, a um grupo que a revista Economist reuniu, em Brasília. Quem quiser ler a íntegra do discurso deve visitar o site Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim.


"Se eu quiser governar o Brasil para 35 milhões, eu não terei problemas, porque o Brasil tem espaço para 35 ou 40 milhões de brasileiros viverem em padrão de classe média alta européia. Se eu quiser governar só para esses, eu não preciso, realmente, fazer investimento do Estado. Agora, se eu quiser e o Brasil desejar incluir os milhões que estão deserdados, aí, realmente, nós vamos ter que gastar. Eu vou dar um exemplo. Seria importante vocês deixarem dois ou três jornalistas aqui, para andar um pouco no Brasil. Quando criei o programa chamado Luz para Todos, eu tinha uma informação do IBGE, de que no Brasil tinham 10 milhões de pessoas que não tinham energia elétrica. Criamos o programa Luz para Todos. Esse programa já utilizou 460 mil quilômetros de cabos - imaginem quantas vezes a gente poderia ter enrolado a Terra - já colocamos mais de 3 milhões e 600 mil postes, já colocamos mais de 500 mil transformadores e já gastamos mais de 8 bilhões de reais. Oitenta por cento financiado pelo governo federal e 20% pelos estados. Alguns estados não podem pagar e nós pagamos também.
Alguém, analisando apenas com uma visão estritamente econômica, poderia dizer: `mas isso não é possível, tem que cobrar´. Se cobrar, não tem energia, porque as pessoas não têm como pagar. Agora que nós já fizemos, e quase 8 milhões de pessoas já receberam, nós descobrimos que os dados do IBGE estavam errados. Apareceram mais 1 milhão e 564 mil pessoas sem luz, e vamos ter que levar, até 2010, para todo mundo. Custa para o Estado? Custa. Alguém que estivesse discutindo do ponto de vista econômico poderia dizer: `custa para o estado, é verdade presidente Lula, custa para o Estado´. E eu poderia perguntar: quanto custa para o Estado deixar essa pessoa vivendo no século XVIII quando nos poderíamos trazê-la para o século XIX com um cabo, um poste e um bico de luz? É preciso ter a sensação do que significa chegar a uma casa, encontrar uma família no escuro - uma lata de coca-cola com pavio, a lata cheia de querosene - e as crianças lendo em torno da lata, a fumaceira cobrindo a casa. Aí, você monta o Programa, chama a mulher e aperta uma tomada. Quando a luz acende dentro da casa dela, é como se você a tivesse transportado do século XVIII para o século XXI, e não há dinheiro que pague. Como custam R$ 4,5 bilhões, que estamos investindo para tentar trazer de volta para a cidadania 4 milhões e 100 mil jovens, de 15 a 24 anos. Ou nós colocamos esse dinheiro, dando uma ajuda para eles e formando-os profissionalmente, ou o narcotráfico e o crime organizado vão oferecer a eles o que o Estado não oferece. Essa guerra eu não quero perder. Eu quero ganhar.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Vitória contra a impunidade

Na segunda-feira postei uma nota sobre a violência contra as mulheres e sobre a Lei Maria da Penha. E não é que ontem o governo do Ceará decidiu pagar a indenização devida a Maria da Penha desde 2001? Ela ficou paraplégica depois de ser atingida pelas costas por um tiro desferido pelo marido. Era a segunda tentativa de assassinato, somada a anos de agressão. Maria da Penha denunciou à Organização dos Estados Americanos (OEA) a não punição judicial do ex-marido que só foi preso em 2002, ou seja, 19 anos depois do crime e um ano após a sentença da OEA.

É uma vitória das mulheres na luta contra a impunidade. Maria da Penha virou ícone da campanha empreendida por organizações que lutam pelos direitos das mulheres que culminou na promulgação em 2006 da lei que leva seu nome e que prevê punição mais rigorosa aos agressores domésticos. Ela disse ontem que a indenização não cobre os gastos que teve com a recuperação de sua saúde, porém tem um significado muito importante na luta contra a impunidade.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Sálvia vira substituta da maconha


Aviso aos culinaristas de plantão: no lugar de maconha, jovens estão consumindo a sálvia, usada como tempero de carnes, massas e pratos preparados com legumes. Acho que essa sua propriedade alucinógena nunca tinha sido explorada por ninguém por aqui.
Se a moda pega e se virar crime consumir sálvia, quem estiver carregando um macinho da erva precisa ter uma receita culinária na ponta da língua.

Existem diversos tipos de salvia. Resta saber se é mesmo a salvia officinallis que usamos na cozinha. No México, por exemplo, existe a salvia divinorum, conhecida como a erva dos xamãs por seu poder alucinógeno, e já era utilizada pelos índios que habitavam a região de Oaxaca bem antes da chegada dos espanhóis.

Numa aula de gastronomia o chef Mauricio Lopes fez um molho à base de manteiga e sálvia para comer com massa fresca de semolina. Maravilhoso. Sempre usei sálvia nas carnes, mas esse preparado simples me conquistou. É o molho mais simples que já fiz. Basta esquentar bastante manteiga numa frigideira e colocar as folhas de sálvia (bastante). Temperar com sal, e, se gostar, um pouco de pimenta branca. E pronto. É só juntar a massa. A sálvia fica crocante, e o prato, delicioso.

E a descarga, funciona?



Tá, tá certo que às vezes dá vontade de enfiar determinadas matérias que lemos na mídia brasileira na privada e dar a descarga, mas essa foto não foi feita no Brasil. Foi em Austin, no Texas, durante a campanha da Hillary. Vejam na foto da Newsweek onde os jornalistas que a acompanhavam foram acomodados. Foto de Justin Sullivan/Getty Images.

terça-feira, 11 de março de 2008

Pequenas gentilezas


No meio de tanta turbulência, pequenas gentilezas esquentam o coração da gente, não é mesmo? Que dirá então uma seleção do Pearl Jeam, com aquela voz linda do Eddie Vedder, gravada num CD e deixada na portaria do prédio?

segunda-feira, 10 de março de 2008

Respeito é bom e toda mulher gosta

A Lei Maria da Penha tem ajudado a reduzir os casos de violência contra a mulher, mas em Pernambuco, em especial, a situação é aterradora. Se em 2007 quase 300 mulheres foram assassinadas no estado, em 2008, somente nos dois primeiros meses, 60 mulheres já perderam a vida. A violência doméstica tem sido uma constante na vida de muitas mulheres brasileiras. Na maioria dos casos, elas são vítimas de seus próprios companheiros ou ex-companheiros.

Uma iniciativa interessante é a Campanha do Laço Branco 2008: Homens por uma cultura sem violência contra a mulher, que vai ser lançada amanhã às 20h00 na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional em Brasília.

Buscava informações sobre o assunto na internet, quando me deparei com o Portal Violência Contra a Mulher, do Instituto Patrícia Galvão. É um verdadeiro banco de dados sobre o tema. Fala sobre programas de prevenção, assistência e combate a esses crimes, publica um glossário, aponta os tipos de violência etc., e informa sobre campanhas, fornece dados e pesquisas, reportagens, artigos, legislação e normas, convenções e outros documentos internacionais, políticas públicas, ONGs que trabalham com o tema, guias de serviços, datas importantes, banco de fontes, contatos e especialistas e links. Vale uma visita.

E pra quem não conhece, taí a letra da música Maria da Penha, cantada pela Alcione e escrita por Paulinho Resende e Evandro Lima.


Maria da Penha

Comigo não, violão
Na cara que mamãe beijou
''Zé Ruela'' nenhum bota a mão
Se tentar me bater
Vai se arrepender
Eu tenho cabelo na venta
E o que venta lá, venta cá
Sou brasileira, guerreira
Não tô de bobeira
Não pague pra ver
Porque vai ficar quente a chapa...
Você não vai ter sossego na vida, seu moço
Se me der um tapa
Da dona ''Maria da Penha''
Você não escapa
O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor
Vacilou, tá na tranca
Respeito, afinal, é bom e eu gosto
Saia do meu pé
Ou eu te mando a lei na lata, seu mané
Bater em mulher é onda de otário
Não gosta do artigo, meu bem
Sai logo do armário
Não vem que eu não sou
Mulher de ficar escutando esculacho
Aqui o buraco é mais embaixo
A nossa paixão já foi tarde
Cantou pra subir, Deus a tenha
Se der mais um passo
Eu te passo a ''Maria da Penha''
Você quer voltar pro meu mundo
Mas eu já troquei minha senha
Dá linha, malandro
Que eu te mando a ''Maria da Penha''
Não quer se dar mal, se contenha
Sou fogo onde você é lenha
Não manda o seu casco
Que eu te tasco a ''Maria da Penha''
Se quer um conselho, não venha
Com essa arrogância ferrenha
Vai dar com a cara
Bem na mão da ''Maria da Penha''

Cuidado! Tem mais pecado à vista

Se o povo já dão dava conta de pedir perdão pela gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça, agora a coisa ficou mais feia ainda. O Vaticano acaba de atualizar a lista dos pecados capitais e incluiu o uso de drogas, a manipulação genética, a desigualdade social e a poluição ambiental entre aqueles pecados que os tementes a Deus devem pedir perdão. É a igreja em tempos de globalização.

Se todos os que se dizem católicos deixassem de usar e comercializar drogas, de poluir o ambiente e respeitassem os seus desiguais, já estariam desbaratados os cartéis da droga no Brasil e nos países vizinhos; já estaria reduzida a produção e circulação de automóveis e o governo não precisaria lançar mão de programas como o Bolsa Família, o vale gás e muitos outros.

E pra lembrar da lista anterior, se todos os católicos respeitassem o preceito de não cometer os sete pecados capitais, não haveria tanto obeso, tanto pão-duro, tanta gente raivosa, tantos freqüentadores das Dalu da vida. E mais trágico pra nós, preguiçosos de plantão, estaria falida a indústria das redes.

sábado, 8 de março de 2008

Arembepe

Em Arembepe, na Bahia, vive um sujeito pra lá de interessante. É o Missival, um ex-hippie que se instalou naquela praia junto com outros tantos nos anos 60/70 , quando ali não existia asfalto ou luz elétrica. Até hoje a vila dos hippies ainda é visitada como se ali vivessem animais exóticos dignos de observação. O Missival deixou a vila pra morar do outro lado de Arembepe. Tem uma pousada com alguns quartos e um restaurante simples aberto ao público. Porém são poucos os turistas que ficam ali; a maioria prefere ficar em Salvador ou nas praias da Linha Verde como Imbassai, Conde, Barra do Tariri. Apesar das modernidades que chegam a Arembepe (carros, barulho, som alto e outras idiotices que não suportamos em praia), o lugar ainda é muito bonito. Mas voltando ao Missival, eu o conheci há alguns anos quando viajei de férias para a Bahia. Por indicação de um amigo, ex-hippie também, fui intimada a ficar no Missival. De mochila nas costas eu andava pelas ruas procurando pelo endereço da pousada quando um sujeito sentado na frente de um bar começa aquele abominável psiu! psiu! psiu! Diante da insistência, olhei com raiva e o que vi foi um baiano bem simplório com os cabelos descoloridos olhando direto pra mim. Pois é, era o dito cujo. Foi amor à primeira vista. Um amor de amigo, é bom esclarecer. Daí pra frente não nos largamos mais. Muita conversa, fofoca, cumplicidade. Tudo isso na cozinha da pousada onde ele reina como um verdadeiro chef francês. Preparou uma lagosta tão boa que até hoje ainda sinto o gosto na boca. É um dos tantos cozinheiros fantásticos que temos perdidos Brasil afora. Sem frescura, ele transforma os ingredientes super frescos que chegam do mar em verdadeiras delícias. Vale uma visita.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A propósito do 8 de março, Dia Internacional da Mulher

No começo da semana conversava com duas amigas sobre a passagem do tempo, o aumento no número do manequim e as roupas perdidas por causa disso. Nenhuma de nós lamentávamos a realidade, somente constatávamos o fato. E hoje leio o artigo “Corpos de consumo” da Rose Marie Muraro e da Maria Tereza Maldonado na Folha, sobre como se cria no país um conceito de que é preciso ter um corpo perfeito para ser amada, ser querida, pra manter um relacionamento ou um casamento. E até mesmo um emprego. Esses são valores que estão sendo passados para os nossos jovens. Adolescentes já falam ou já fizeram uma plástica, uma lipoaspiração. O corpo perfeito das modelos que estampam as capas das revistas é a meta a ser perseguida pra se ter sucesso no campo profissional e na vida pessoal. O que o futuro reserva pra essa geração? Penso que um vazio sentimental terrível. Um parágrafo do artigo de Rose Marie e Maria Tereza:

O amor, o desejo, a ternura e a cumplicidade podem existir entre pessoas com corpos imperfeitos. Ao contrário do que a mídia apregoa, quanto mais maduros homens e mulheres, mais profundas se tornam suas relações, mais independentes de estereótipos e mais prazerosas, de um prazer inabalável, se não fosse o bombardeio midiático de que a velhice é uma doença, e não uma plenitude.
Para onde nos leva o capital/dinheiro? São inaceitáveis as marcas (e os marcos) do tempo no corpo? É imoral envelhecer?

Comer santo é pecado

A história e essa imagem estão no blog O fantasma de Chet Baker da Márcia Frazão, que se autodenomina escritora e bruxa. Ela acordou um dia e viu que o seu São Jorge estava derretido. Seria um sinal, um aviso? Vale dizer que o santo era de açúcar. Ficou no altar durante um ano. A amiga que deu o santo disse pra ela comer, mas comer santo? Onde já se viu? É pecado, não pode. E quem vai entrar no paraíso depois disso? Claro que ela não comeu, e ainda botou o bichinho no altar. Outra amiga disse pra ela que ele gostaria de uma cervejinha. E não é que por um ano ela serviu cerveja pra ele num copo de prata? Êta santo sortudo! Será que um dia alguém vai me servir uma cervejinha todo dia sem que eu tenha que pedir ao garçom ou pagar por ela? Meu gosto pela cerveja todo mundo já conhece, mas acho que vou ter que virar santa antes! Ah, e no meu caso, nem precisa copo de prata. Pode ser de vidro mesmo. E se não tiver um bom copo de cerveja, até um cristal Cica serve.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Arquitetura paulistana


E por falar em lugares especiais de São Paulo, no começo da semana estive na Santa Casa de Misericórdia, no bairro de Santa Cecília. O prédio é lindo e merece uma visita. Que não seja numa emergência!
Na entrada, quaresmeiras dividem espaço com pés de jaca carregados. Os prédios lembram conventos espanhóis. Não sei de que época são. Preciso pesquisar.
Mas por enquanto aproveito pra mostrar algumas fotos que fiz no começo da semana.

No largo da caixa d'água

No meio do burburinho constante de São Paulo existe um lugar que lembra aquelas praças de cidades do interior. Fica entre as estações Vila Mariana e Ana Rosa do Metrô. Quem passa pela avenida (a Vergueiro), só vê a caixa d'água da Vila Mariana. Mas atrás dela, existe um largo com casas antigas e chão de paralelepípedos. Pra tirar a tranquilidade da vizinhança, ali se instalou o Veloso, um boteco que veio ocupar o lugar do açougue. Não estou reclamando, afinal, sou uma das frequentadoras mais assíduas. Além do Souza, que é o mestre das bebidas, o bar tem tira-gostos ótimos como as coxinhas, o bolinho rústico de carne, a linguiça na chapa e muito mais. Mas o mais gostoso do lugar, é o ambiente. Lembra aqueles bares antigos do Rio, com mesinhas na calçada, gente muito falante e muito chopp gelado. Quer coisa melhor pras noites quentes dos últimos dias?

segunda-feira, 3 de março de 2008

O que importa de fato

Agora à noite ouvi uma frase que me fez ver a bobagem que escrevi na postagem anterior sobre a crise dos 50 anos. Durante uma homenagem a uma amiga falecida no mês passado, sua filha mais velha disse que a mãe havia dado a ela e aos irmãos o que outra pessoa não conseguiria dar em 100 anos. E é verdade. Nani Stuart viveu em 62 anos muito mais do que alguns que já chegaram aos 100. Uma parte de sua vida ela viveu na Argentina, onde militava e de onde fugiu com a filha depois que o companheiro foi morto pela ditadura daquele país. Aqui chegando, ela começou uma nova vida, militando sempre e se engajando na fundação e na consolidação do partido que ela acreditava ser o único capaz de dar aos brasileiros e aos vizinhos latino-americanos uma vida digna. A união dos povos da América Latina foi a grande bandeira que Nani defendeu durante toda a sua vida, seja no PT, seja nas organizações às quais pertencia, seja nas universidades nas quais lecionava. E por sorte ela ainda pôde ver eleitos pelo povo os presidentes da Bolívia, da Argentina, do Equador, da Venezuela, do Uruguai e, é claro, do Brasil.

E foi com Lula que ela viveu um dos momentos mais importantes de sua vida. Voltou à Argentina integrando a comitiva oficial do presidente eleito do Brasil. Importante para ela e para seus antigos companheiros de luta.

Durante as homenagens que lhe foram feitas, ouvi sobre a companheira de trabalho solidária, sobre o amor pelos 3 filhos e os netos, sobre a companheira amorosa, sobre como ajudava as pessoas sem que lhe pedissem e sem esperar reconhecimento ou agradecimentos. Seu bom-humor era marca registrada, estava sempre disposta a encarar o que viesse pela frente. A única batalha que ela não conseguiu vencer foi a que travou contra o câncer. Era uma lutadora, e não foi de se admirar que a família e o partido tenham recebido mais de 800 mensagens vindas de diversas partes do mundo.

Sempre pensei que a Nani tivesse a minha idade, mas ela já tinha passado dos 60. E hoje ficou muito claro pra mim que não importa a idade que você tem, mas sim o que você fez e o que está fazendo nesta vida. Isso sim é que faz a diferença.

Se a moda pega...


Andrea, leitora assídua, me mandou um link de uma notícia sobre uma mulher chamada Maria Olívia da Silva que completou 128 anos no mês passado. Ela mora no Paraná e durante toda a vida trabalhou na roça. Já pensou se a moda pega e a turma começa a viver além dos 100? Como fica nossa crise dos 40? E a dos 50? Eu mesma estava preparando o espírito pra comemorar e pra entrar na crise do “já vivi meio século”, mas agora não sei não! Tá certo que depois de toda cerveja, cachaça, lingüiça, torresmo, feijoada, noites em claro, fumaça de cigarro, poluição e estresse desses anos todos a máquina já não é nenhuma Brastemp! A assistência técnica trabalha a todo vapor; as revisões são anuais; algumas peças origjnais já foram trocadas ou consertadas. Agora apelo pra yoga e pras terapias alternativas pra recuperar uma parte do que foi perdido e pra diminuir o estrago! Bom, pelo menos tem uma coisa boa nisso tudo: na memória estão registradas milhares de coisas legais pra ficar lembrando lá na frente!