quinta-feira, 10 de abril de 2008

A justiça é cega? Galeano responde.

Uma historieta que compõe o próximo livro do Eduardo Galeano Espelhos: Uma história quase universal, fala sobre as soldaderas mexicanas (da Agência Carta Maior)

"As invisíveis

Mandava a tradição que os umbigos das recém nascidas fossem enterrados debaixo da cinza do fogão, para que cedo aprendessem qual é o lugar da mulher, e que daí não se sai.
Quando estourou a revolução mexicana, muitas saíram, mas levando o fogão nas costas. Por bem ou por mal, por seqüestro ou por vontade, seguiram os homens de batalha em batalha. Levavam o bebê grudado na teta e nas costas as panelas e as caçarolas. E as munições: elas encarregavam-se de que não faltassem tortillas nas bocas nem balas nos fuzis. E quando o homem caía, empunhavam a arma.
Nos trens, os homens e os cavalos ocupavam os vagões. Elas viajavam nos tetos, rogando a Deus que não chovesse.

Sem elas, soldaderas, cucarachas, adelitas, vivanderas, galletas, juanas, pelonas, guachas, essa revolução não teria existido.

Nenhuma recebeu pensão."
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Foto: detalhe da capa do livro Las Soldaderas: Mulheres na revolução mexicana, de Elena Poniatowska.

4 comentários:

Patty Diphusa disse...

Muito bom esse texto. E aposto que elas eram as que menos reclamavam dos ferimentos, apesar de provavelmente ganharem no quesito bichos e insetos.

Mulher é dose mesmo. E eles ficam com a glória e as pensões. arghhh


bjs

Anônimo disse...
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Patty Diphusa disse...

Voltei só para te deixar um beijo.

Reiko Miura disse...

Patty, vendo a história das soldaderas do México, lembrei de uma cena do filme Linha de Montagem, do Renato Tapajós, que mostra as mulheres dos metalúrgicos em greve no ABC no final dos anos 1970 batendo de porta em porta angariando comida pra ajudar as famílias mais necessitadas. Homens em greve, mulheres na retaguarda. E sem essa de machismo, porque naquela época as fábricas eram povoadas por homens. Era um verdadeiro fundo de solidariedade. Essas eram as nossas soldadeiras urbanas.