quarta-feira, 18 de junho de 2008

Há 100 anos minha raiz estava sendo plantada


Hoje é um dia muito significativo para os japas como eu. Afinal, se no dia 18 de junho de 1908 não tivesse aportado aqui o Kassato Maru trazendo 781 japoneses (que depois trouxeram mais, mais, e mais japoneses), provavelmente eu não teria nascido no Brasil e nem estaria aqui curtindo esse país incrível. Sou tão, mas tão brasileira, que muitas vezes esqueço que tenho ascendência japonesa e chego a estranhar quando alguém diz algo do tipo "mas você como japonesa..." . Nas viagens ao exterior, acham que sou do Japão, da China, da Coréia. Quando digo que sou brasileira, o comentário é sempre o mesmo "não pode ser!".

Meus pais vieram do Japão no final da década de 1930, e como milhares de outros japoneses foram pra região Noroeste de São Paulo onde estavam as fazendas de café. Se casaram aqui no sistema do “miai”, que vem a ser o casamento arranjado entre as famílias. Tiveram 10 filhos, oito homens e duas mulheres. Minha irmã foi a segunda e eu, a nona! Por esse motivo tenho um monte de sobrinhos-netos (7), com largas perspectivas de ganhar outros tantos.

Alguns dos meus irmãos se casaram nos “miais” promovidos pela minha avó, mãe da minha mãe, que era a casamenteira da família. Fui uma vez com um dos meus irmãos até o interior de São Paulo pra conhecer a moça que havia sido prometida pra ele (ou arranjada). Ele só foi vê-la de novo no dia do casamento. Esse aí não deu certo, mas outros sim. Eu escapei porque avisei logo a minha mãe e o meu pai que esse negócio não era pra mim e ameacei sumir das vistas deles se ouvisse algum comentário sobre arrumar um noivo pra mim. Me deixaram em paz. Virei a solteirona da família. A solteirona que deu certo, como ouvi meu pai contar a um amigo dele. Diga-se de passagem, se uma japa não casava até os 21 anos, já era solteirona! No meio do século passado esse negócio era levado a sério. Hoje a coisa tá toda esculhambada. O jeitinho brasileiro já se imiscuiu nos costumes e não há japonês que consiga fazer valer suas vontades nos dias de hoje. É daí que a gente tromba com cada mestiço lindo!

Mas no geral, acho muito legal ver que a cultura japonesa está tão incorporada por aqui. Quem já não comeu de “pauzinho”, ou melhor, com o hashi? Quem já não comeu sushi, sashimi, tempurá, tofu, tomou missoshiru (a tal sopinha de pasta de soja), e tantas outras iguarias? O shoyu virou condimento em muitas casas brasileiras. Mas tudo isso merece um post exclusivo, não é mesmo? Da mesma forma merece um post a vida dos meus sobrinhos que fizeram o caminho inverso e foram trabalhar no Japão com a idéia de juntar dinheiro pra voltar e se estabelecer aqui. Muitos não conseguem retornar. E essa é a realidade pra milhares de dekasseguis que estão no Japão.

4 comentários:

Patty Diphusa disse...

E eu tenho de agradecer ao Kassato Maru por ter colocado a semente dessa Andarilha no mundo.

Bjs, valeu.

Reiko Miura disse...

bonitimha! Já pensou em que parte do planeta a gente teria se encontrado se eu não tivesse nascido aqui??

Anônimo disse...

Ainda bem que o Kassato Maru aportou por aqui.
Não consigo imaginar nossas vidas, as amigas que te conheceram e que compartilham de sua existência, sem você.
E viva o Kassato Maru!!!
Beijocas

Reiko Miura disse...

aurora,
pelo jeito você conseguiu retomar suas postagens. Que bom que você arrumou um tempinho pras amigas.

bjs.