terça-feira, 2 de outubro de 2007

A classe média perdeu a vergonha de comprar e de comer a mortadela

Houve época em que a tal mortadela só era comprada e comida por pobres. Nos balcões e nas mesas dos bares mais afastados, sempre aparecia um pratinho com a dita cuja cortada em cubos pra acompanhar a cachaça ou a cerveja. E se era pra ser “chique”, uma banda de limão espremida por cima caía bem. Hoje falam na mortadela como se fosse a maior invenção dos últimos tempos. Isso é coisa da classe média passeadora do Mercado Municipal, o mercadão, ou o mercado da Cantareira como era conhecido pelos feirantes e atravessadores. A invasão dos “turistas” de São Paulo e de fora é a causa de boa parte dos aborrecimentos dos comerciantes que vêem aquele vai-e-vem de gente que não acaba mais, que só olha, pede provinhas de queijo, salames, azeitonas e não compra nada. Se compra, é o pastel de bacalhau. Pra isso enfrentam uma fila insana. Tem até senha e painel eletrônico pra chamar. O pastel, sempre esteve lá; o sanduiche de mortadela também. Sempre comido pelos comerciantes, feirantes, carregadores e os que frequentavam o mercado diariamente. Ah, e tinha também o sanduíche de bife, afinal, o pessoal ali precisava se alimentar bem pra carregar tanta caixa! Bastou o mercadão virar ponto turístico, acabou a paz de quem vai por ali pra comprar de fato, ou seja, o pessoal que trabalha em restaurantes e ainda mantém o hábito sadio de escolher pessoalmente as melhores e mais frescas mercadorias.

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