sexta-feira, 31 de julho de 2009
O que os militares registraram sobre a esquerda brasileira
Ontem tive o prazer de participar do bate-papo com o jornalista Lucas Figueiredo no SESC Vila Mariana. Digo prazer porque o Lucas é um dos jornalistas que ainda honram a profissão e faz seu trabalho da forma mais responsável e ética possível. Ele acabou de lançar o livro Olho Por Olho - Os Livros secretos da ditadura (Ed. Record) sobre dois livros que contam - cada qual à sua maneira - os acontecimentos do período da ditadura militar. De um lado, o “Brasil: nunca mais”, livro organizado por Dom Paulo Evaristo Arns e cuidadosamente elaborado durante seis anos e que deu visibilidade à ação das Forças Armadas contra os militantes de esquerda (tortura, mortes, desparecimentos); de outro lado, o Orvil (livro, ao contrário), elaborado por integrantes do Exército e que conta, sob a ótica dos militares, o que de fato teria acontecido durante o regime militar. Este livro nunca foi publicado, segundo Lucas, a pedido de José Sarney, então presidente da República, ao general Leônidas Pires Gonçalves que era ministro do Exército.
Durante o bate-papo, Lucas contou como viu o livro - um dos únicos 15 exemplares existentes - e como conseguiu copiá-lo. O que o livro contém são relatos minuciosos sobre a movimentação dos militantes de esquerda durante o regime militar. Inclui o relato detalhado dos últimos dias de 24 guerrilheiros, cuja existência até então era negada pelo próprio Exército.
Ao ser questionado sobre a abertura total do conteúdo do Orvil, Lucas disse que ali estão relatos que podem transformar vidas porque há registros de muitos militantes que sob tortura entregaram os nomes de outros militantes, outros ainda, têm sua morte relatada com detalhes das crueldades praticadas. Outros dados ainda, apontam, do ponto de vista conservador, as opções/orientações adotadas por militantes. Por tudo isso, Lucas acredita que é melhor que o livro fique aos cuidados de instituições que podem lidar com seu conteúdo de forma cuidadosa, por exemplo, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SNDH), o Ministério Público, entre outros.
De qualquer maneira, os fatos que vêem à tona com a divulgação de arquivos como estes do Orvil, do livro Direito à Memória e à Verdade (da SNDH), do Brasil Nunca Mais, e outros, ainda não são suficientes para trazer à tona o que de fato aconteceu durante o regime militar. Mais de cem militantes continuam desaparecidos. E só mesmo os que comandavam as Forças Armadas na época podem dizer o que foi feito deles.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Uma festa pra quem gosta de produtos naturais e orgânicos
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Lúcio Flávio Pinto: a voz castigada da Amazônia
Na semana passada ele foi condenado numa das quatro ações movidas pelos donos do grupo O Liberal, do Pará. Condenado, não pode sair do estado para participar do 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, onde seria homenageado. O texto abaixo é um extrato do que foi lido por seu filho na abertura do evento. Quem quiser ler o texto todo, pode acessar o site da Adital (Agência de Informação Frei Tito para América Latina)
"...
Sei que o que vi e sobre o que escrevi é a própria história em processo, uma história como poucas houve e, espero, poucas voltarão a se repetir, com suas cores dramáticas e infamantes. Com os olhos de um adolescente de 16 anos, vi cientistas de todo mundo reunidos em Belém, no centenário da mais antiga instituição de pesquisa regional, o Museu Paraense Emílio Goeldi. Percebi então que a Amazônia á uma questão planetária, que, para o bem e para o mal, não pode ser tirada desse âmbito mais amplo. Aos 18 anos, fiz a primeira viagem à Serra dos Carajás, que se constituiria a maior província mineral do mundo.
Aprendi que a riqueza do subsolo da Amazônia lhe impõe este como o primeiro desafio de inserção global. Conheci muitos bravos personagens da história amazônica que perderam seu papel nesse drama por terem sido assassinados, como Chico Mendes, Gringo e centenas de cidadãos esmagados pelo trator da história oficial. Fui testemunha, às vezes solitária, de acontecimentos únicos, como o ingresso, no rio Jari, da fábrica e da termelétrica trazidas do Japão pelo milionário americano Daniel Ludwig, com quem tercei armas. Fui alvo de ameaças e vítima de agressões. Aos poucos, minha indignação foi crescendo e meu desejo de intervir nessa realidade extrapolou limitações. Não só escrevia, em todos os lugares que se me oferecessem. Também bradava aos quatro ventos, num circuito de palestras dentro e fora do Brasil que se expandiu em espirais.
Tanto escrevi e tanto disse que meu texto se tornou lido e minha voz, ouvida. Passei a incomodar, acho que em especial porque a força da minha indignação não alterou o meu compromisso com a verdade, no desempenho técnico da minha função de reportador dos fatos, escrivão do cotidiano. Era tão incômodo ouvir o que eu dizia quanto difícil desmentir o que eu divulgava. Cometi o pecado mortal de incomodar os manipuladores da verdade e os donos do poder. Não por mera coincidência, em plena democracia, me tornei um dos jornalistas mais processados e condenados, principalmente por outros cidadãos que alegam intimidade com o jornalismo, já que possuem empresa jornalística. Com o toque sugestivamente kafkiano de que, queixando-se de serem vítimas de minhas inverdades, não utilizam seu enorme poder de comunicação para contrapor a elas suas verdades, em debate público. Pelo contrário, fazem da técnica do silêncio, combinada com a utilização do maleável poder judiciário, enquanto força pretoriana a serviço dos seus objetivos e caprichos, o instrumento para me esmagar e destruir."
terça-feira, 21 de julho de 2009
E ele gritou
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Será que a Conferência de Comunicação vai virar pizza?
No começo de dezembro deste ano acontece a Conferência Nacional de Comunicação, chamada pelo governo federal. Até agora, o governo Lula já realizou inúmeras conferências, mas esta promete ser a mais custosa, politicamente falando, tanto para o governo como para o movimento social.
Em nenhuma das conferências o empresariado esteve tão organizado como os proprietários dos jornais e revistas, TV, rádio, e, agora, junte-se a eles os representantes das teles que querem entrar no ramo das TVs digitais.
Mas a voz corrente entre os que participam da organização da Confecom é a de que ninguém deve esperar milagres, ou seja, democratização do acesso aos meios de comunicação, regulamentação das concessões de rádio e TV, controle público etc.
De qualquer forma, é uma conferência que está mobilizando gente de todo o país, das mais diversas áreas: sindicatos, universidades, ONGs, igreja e muito mais gente. Só por isso já está valendo.
No mais, o que esperar da conferência, quando o Ministério das Comunicações é comandado pelo Hélio Costa?
Mas estudiosos como Venício Lima, da UnB, acham que o país deve aproveitar o momento de preparação da conferência para que sejam debatidos temas como a questão da propriedade dos meios de comunicação, hoje concentradas nas mãos de algumas poucas famílias, e também o uso das concessões públicas, que hoje são comercializadas como bem privado.
Outro ponto que Venício Lima aponta: é preciso denunciar os desmandos cometidos pela mídia: distorções da realidade, parcialidade nas reportagens, omissões etc.
O Venício, por sinal, parece um paladino que vai de canto em canto do país falando sobre isso e alertando os movimentos sociais pra não perderem esse momento tão importante.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Pra quem gosta de jornalismo e literatura
Outro jornalista que envereda pela literatura é o Lucas Figueiredo, que participa do Sempre um papo no SESC Vila Mariana (Rua Pelotas, 141, de graça) no dia 30/07, quinta-feira, às 20h00. Ele vai falar sobre o último livro Olho por Olho: os Livros Secretos da Ditadura (ele é autor de Ministério do Silêncio e Morcegos Negros, ambos sobre a história recente do Brasil).
Do material de divulgação do “Sempre Um Papo” sobre o último livro do Lucas: De acordo com o autor, a guerra entre os defensores e os opositores da ditadura militar no Brasil (1964 a 1985) foi longa e suja. O que durante duas décadas não se soube é que o confronto derradeiro mobilizou menos de 40 combatentes de cada lado, foi silencioso — quase invisível — e durou 28 anos: de 1979 a 2007. Um conflito que extrapolou, assim, o próprio período da ditadura. A última batalha dessa guerra foi travada por dois livros. “Brasil: nunca mais” — a “bíblia” sobre a tortura praticada pelas Forças Armadas — e o menos conhecido “Orvil”, a resposta do Exército, sobre a guerrilha e o terrorismo de esquerda. Os bastidores dessa batalha, com detalhes de cortar o fôlego, estão reunidos no livro “Olho por Olho: os Livros Secretos da Ditadura”. Na obra, Figueiredo — com três Prêmios Esso de Jornalismo no currículo — revela toda a tensão dos seis anos de trabalho sigiloso do “Brasil: nunca mais”.
terça-feira, 14 de julho de 2009
A pintura da discórdia
Tudo que sei é que a igrejinha é linda, os azulejos de Athos Bulcão maravilhosos.
E por falar em Athos, vi este cartaz que a Cãmara dos Deputados fez quando o homenageou pelos 90 anos. Lindo.
O açougue cultural T-Bone
Numa parada de ônibus
E o que começou com uma pequena biblioteca comunitária, virou espaço cultural, com direito a apresentações literárias, saraus etc. Ótimo exemplo a ser seguido.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Programa "O Guia", do Josimar Melo estréia dia 12
Por onde ele andou: Paris e Normandia (França); Londres; La Mancha e Salamanca (Espanha); Toscana e Sicília (Itália); Istambul (Turquia);
Bahia, Minas Gerais e Amazonas (Brasil); Lima (Peru); e Buenos Aires (Argentina)
Algumas passagens interessantes (tiradas do site NatGeo): em Paris, Josimar vai ver como funciona, quais são os critérios, quem são os responsáveis pelas resenhas do Guia Michelin, entre outros, encontra com Alain Passard e Alain Ducasse; na Toscana, entrevista Dario Cecchini, considerado o maior açougueiro do mundo, vai atrás da trufa branca nas colônias locais, e visita a Enoteca Pinchiorri, em Florença; na Bahia ,visita Dona Canô, a fábrica de charutos Menendez Amerino, a Feira de São Joaquim, o terreiro de Pai Marivaldo, e o Varal da Dadá.
Os programas vão ao ar sempre aos domingos, às 20hs, por 3 meses. A programação completa e o conteúdo dos programas podem ser conferidos no site da emissora.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
O encantador Jun Sakamoto
Para Jun, a comida tem que encantar, tem que ter alma. Se não encantar, então não é boa. Ele citou o Mocotó do Rodrigo Oliveira, outro encantador. E os dois até que se parecem, começam tímidos, mas quando o assunto comida toma conta da conversa, se soltam totalmente. Estão em casa.
Se o segredo da comida, está no encantamento, o do sushi está no arroz. Esses dois aprendizados foram os mais importantes da vida de Jun, que aos 43 anos, comanda seu próprio restaurante mantendo práticas que os velhos mestres adotavam para garantir qualidade: escolhe pessoalmente tudo o que utiliza como o peixe, o arroz, o shoyu, o wasabi e o vinagre etc.
Ao ser questionado sobre os utensílios que utiliza, ele falou sobre a importância da faca e de outros itens importantes da cozinha, mas deixou claro que isso não é o essencial. Afinal, "culinária não é razão, é emoção, os utensílios não passam de instrumentos, mas se for possível, utilize o melhor". Ele citou o ex-nadador Carl Lewis: Ele não era o melhor nadador porque usava a melhor sapatilha, mas, com certeza, usava a melhor sapatilha.
O bate-papo fez parte de um ciclo de três palestras sobre gastronomia japonesa, promovido pela Fundação Japão: a primeira, com Josimar Melo, e a segunda, com Arnaldo Lorençato. O ciclo todo foi muito interessante porque fugiu do lugar comum de culturar personalidades. Foi uma troca de experiências entre pessoas que têm em comum a curiosidade e o amor pela gastronomia japonesa, que conseguem enxergar num prato de comida muito além do que uma simples mistura de ingredientes e temperos.