sábado, 28 de fevereiro de 2009

O povo de Canoa Quebrada vive mais

Hoje passei o dia na casa de um amigo nas proximidades de Canoa Quebrada. A casa fica numa região que eles chamam aqui de lagoas. Com as chuvas, entre as dunas vão se formando as lagoas. Muito bonito o cenário. Conversa boa, almoço de peixe frito com cuscuz nordestino, deitar na rede e ficar ao sabor do vento. Não pode existir nada melhor nesse mundo.

E o povo daqui de Canoa vive muito. Visitei ontem as irmãs de uma amiga daqui. Uma delas tem 90 e a outra 94. Mas a coisa não ´pára por aí, não! As duas passam o dia bordando labirinto! É uma afronta pros meus olhinhos de cinquentinha já cansados.


Vejam só a Teté, de 94 trabalhando.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Se eu não sou mais a mesma, imaginem a Canoa Quebrada!



Acho que o administrador do blog pirou. Tá misturando postagens novas com antigas. Bem, mas aqui vai.

Hoje na praia ouvi o comentário de uma mulher pra um vendedor de quinquilharias: moço, nosso hollerith é brasileiro! É assim mesmo. Aqui em Canoa Quebrada a gente precisa avisar que é brasileiro. Caso contrário... Não vinha a Canoa há 23 anos, então imaginem o choque que tive ao ver o asfalto dentro da vila, as antigas casas que desaparecerem pra dar lugar a lojas, boutiques, restaurantes e bares. Até mesmo esta lan house que estou usando fica dentro da Canoa!



Só mesmo numa caminhada hoje pela manhã, reencontrei um pouquinho da antiga Canoa, na localidade chamada Esteves, que fica um pouco afastada do centro. É incrível.
Além das mudanças aparentes, as pessoas daqui também mudaram. Se por um lado o lado bucólico de Canoa e a tranquilidade deixam saudades, por outro lado os moradores hoje acham que ganharam muito porque com o turismo, chegaram o posto bancário, a padaria, a farmácia, o mercadinho. Antigamente, até mesmo o pão precisava vir de Aracati. Hoje já não.

Bom pra uns, pior pra outros. De qualquer maneira, a Canoa é um lugar lindo, com suas falésias avermelhadas e o mar tranquilo. Comer um pargo frito, tomando cerveja e olhando esse cenário, não tem preço. E também não tem preço rever pessoas queridas como Aldenora, Nelson, Élcio, Neise, Neide. Uma verdadeira visita ao passado.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pé-sujo, quilo ou um restaurante estrelado?

Engraçado. Ontem havia postado essa coisa de estar no lugar pra sentir de perto como vivem os locais. E não é que hoje recebo um e-mail de um amigo capixaba-barriga verde-paulistano-carioca (a crise de identidade já deve estar batendo!) sobre uma matéria que saiu hoje na Folha sobre a blogueira Layne Mosler que só anda de táxi e só vai onde os taxistas indicam. É interessante e vale uma visita ao blog Go Where the Taxista Takes You .

Tá certo que nem sempre ela se dá bem. Muitas vezes deve ter sido levada aos "quilos" da vida, mas imagino que andou por lugares onde um turista comum, com dinheiro ou sem dinheiro, jamais se aventuraria. Na matéria que a Folha publica hoje, ela está em Buenos Aires e ali - quem já esteve por lá sabe - tem mais táxi do que gente. Na minha última visita eram cerca de 40 mil. Então, se ficar rodando alguns dias por ali, dá pra conhecer um bocado de "bibocas".

Vi recentemente uma reprise de um programa do Antony Bourdain sobre a Argentina e ele vai com um cozinheiro a uma favela de Buenos Aires. Um cara montou uma barraca coberta por uma lona e cozinha pra quem quiser chegar. A comida não é pra gente fraca: cozido de miúdos de porco com legumes. Muito parecida com a panelada nordestina. A cara dos "comensais" era de satisfação total, cada um deles lambendo os dedos depois de comer. Conclusão? Os pé-sujos também valem uma visita. Só é preciso ter alguém que conheça e garanta que a comida não vai transformar a viagem de lazer num pesadelo!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Legal mesmo é estar lá


Há alguns anos, no meio de uma conversa, um amigo perguntou: mas você já esteve em Veneza? Ele estranhou que eu fizesse alguns comentários sobre o lugar, sabendo que nunca tinha pisado os pés ali ou navegado seus canais. E eu disse: não, não estive lá, mas li os livros do Hemingway, em especial Na Outra Margem Entre Arvores. Ao ler o livro, ele tansporta a gente pra Veneza. Parece que estamos ali mesmo, acompanhando as andanças do coronel Cantwel. Tá certo que depois de tantos drinks e tantos bares, até o leitor fica meio ressaqueado, mas tudo bem.

Comecei essa conversa, só pra dizer que apesar de ser muito mais seguro e mais barato viajar pelos olhos de outra pessoa, nada se compara a pisar as ruas da cidade, ver sua gente, comer sua comida, provar de suas bebidas, conhecer os costumes, os mercados, a história. Quando finalmente fui a Veneza, a sensação de contentamento era tão grande, que mal dá pra descrever. "Enfim, estou aqui". A mesma sensação tive ao sentar no balcão da Bodeguita del médio, em Havana, e tomar um mojito acompanhado dos torresmos pequeninos e bem fritinhos, os famosos chicharrones. É mesmo uma felicidade indescritível.

Há pouco voltei de Belém. Para boa parte dos brasileiros, resume-se a um lugar quente, na Amazônia, onde chove todos os dias. Idéias construídas a partir de leituras de jornal, de livros e de relatos de viajantes. Mas Belém é muito mais que isso. A começar pelo complexo do Ver-o-peso, que dá vida à cidade. Mais que um entreposto de peixes, farinha, frutas e muitos outros produtos nativos, no Ver-o-peso convergem as produções de pequenos agricultores que cultivam frutas nas comunidades no entorno de rios como o Guamá. Nenhum relato consegue traduzir a vitalidade que existe ali no mercado. Com a sazonalidade, não existe uma estação igual a outra. A variedade de frutas é completamente diferente em cada uma delas. O colorido que as frutas emprestam ao mercado entre os meses de dezembro a fevereiro, não existe em julho, por exemplo. Também não é possível captar a beleza que são os barcos chegando das diversas ilhas pra descarregar o açaí noite adentro. Parece uma legião de vaga-lumes no meio da escuridão. São as luzes dos barcos que se aproximam pelo rio.

Bem, adoro ler, mas nada, nada mesmo se compara a estar lá. Seja lá onde for.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Os rios e as matas


Depois do Fórum aproveitei três dias pra conhecer os arredores de Belém e fiz dois lindos passeios de barco. No primeiro, fui a Barcarena pra conhecer a praia de Caripi. O lugar é lindo, meio deserto. Uma extensa faixa de areia junto a uma vegetação muito verde. No caminho, a gente vê os paraenses que usam o barco como seu meio de transporte pra ir e vir no trecho Barcarena-Belém, os ribeirinhos se locomovendo de um lado para o outro em suas pequenas canoas, os barcos de linha que atendem as diversas ilhas que ficam próximas a Belém. A exuberância da vegetação enche os olhos e no caminho vemos as palmeiras de açaí, de buriti, as castanheiras e muitas outras. Dessas ilhas sai o açaí que diariamente chega ao mercado do Ver-o-peso e dalí é distribuído para o consumo local e para outras cidades do Brasil e do mundo.

Ver-o-peso colorido


É inverno na Amazônia. Sinal de chuva e de frutas. E muitas frutas. Estive em Belém em julho e não havia muitas frutas no mercado Ver-o-peso, mas dessa vez, estava tudo colorido. Muita pupunha, cupuaçu, bacuri, castanha, jenipapo e muitas outras. Os sorvetes de frutas e produtos regionais são fantásticos. Os que mais gosto são os de tapioca, de cupuaçu, taperebá e bacuri.

Os comerciantes do Ver-o-peso se prepararam pra receber os visitantes nacionais e estrangeiros do Fórum, afinal eram esperados cerca de 120 mil pessoas. As bancas abarrotadas de frutas, os comerciantes mais que dispostos a dar informações sobre como nomear as frutas, dar dicas de consumo. Nas barracas de comida, muitos visitantes comendo peixe frito com açaí e tapioca. A Serpinha reinando em todos os lugares.

Voltei.

Blogueiro educado avisa quando vai desaparecer, não é mesmo? Parece que faltei à aula. Bem, fui para o Fórum Social Mundial em Belém, mas bem antes da viagem tinha tanta coisa pra preparar e deixar em ordem que não deu tempo pra atualizar o blog. Belém, como sempre muito quente, dessa vez estava chuvosa, porém bem menos chuvosa do que esperávamos. São os próprios paraenses que brincam dizendo que ali só existem duas estações no ano: a que chove todo dia e a que chove o dia todo. No dia da Marcha de abertura, o temporal mandou ver, mas ninguém arredou pé da rua.





O Fórum é aquela babel que muita gente já teve a sorte de presenciar. Milhares de idéias circulando, experiências sendo trocadas, militantes de movimentos sociais do mundo todo mostrando um pouco do trabalho que realizam em seus países etc. É revigorante ver tanta gente se mexendo mundo afora, seja de organizações não governamentais como dos governos também.

Ouvir Marina Silva é sempre bom, ainda mais na própria região que ela tanto luta pra defender. Ao sair do governo ela perdeu as amarras oficiais e voltou à militância que marcou e marca sua vida. Ouvir os índios sobre suas necessidades e novas necessidades a partir das demarcações de suas terras também é muito interessante. É um Brasil que a gente pouco conhece, que nós, dos grandes centros, ignoramos. O Brasil pensa que conhece o Brasil com a pasteurização carioca-paulistana que a Globo apresenta em suas novelas, mas o Brasil real é bem outro.


Participar desses eventos que trazem gente de todas as partes é uma injeção de ânimo. Ajuda a gente a perceber que tá no caminho certo e que ainda tem muita gente no planeta interessada em conhecer novas experiências.