Há alguns anos, no meio de uma conversa, um amigo perguntou: mas você já esteve em Veneza? Ele estranhou que eu fizesse alguns comentários sobre o lugar, sabendo que nunca tinha pisado os pés ali ou navegado seus canais. E eu disse: não, não estive lá, mas li os livros do Hemingway, em especial
Na Outra Margem Entre Arvores. Ao ler o livro, ele tansporta a gente pra Veneza. Parece que estamos ali mesmo, acompanhando as andanças do coronel Cantwel. Tá certo que depois de tantos drinks e tantos bares, até o leitor fica meio ressaqueado, mas tudo bem.
Comecei essa conversa, só pra dizer que apesar de ser muito mais seguro e mais barato viajar pelos olhos de outra pessoa, nada se compara a pisar as ruas da cidade, ver sua gente, comer sua comida, provar de suas bebidas, conhecer os costumes, os mercados, a história. Quando finalmente fui a Veneza, a sensação de contentamento era tão grande, que mal dá pra descrever. "Enfim, estou aqui". A mesma sensação tive ao sentar no balcão da Bodeguita del médio, em Havana, e tomar um mojito acompanhado dos torresmos pequeninos e bem fritinhos, os famosos chicharrones. É mesmo uma felicidade indescritível.
Há pouco voltei de Belém. Para boa parte dos brasileiros, resume-se a um lugar quente, na Amazônia, onde chove todos os dias. Idéias construídas a partir de leituras de jornal, de livros e de relatos de viajantes. Mas Belém é muito mais que isso. A começar pelo complexo do Ver-o-peso, que dá vida à cidade. Mais que um entreposto de peixes, farinha, frutas e muitos outros produtos nativos, no Ver-o-peso convergem as produções de pequenos agricultores que cultivam frutas nas comunidades no entorno de rios como o Guamá. Nenhum relato consegue traduzir a vitalidade que existe ali no mercado. Com a sazonalidade, não existe uma estação igual a outra. A variedade de frutas é completamente diferente em cada uma delas. O colorido que as frutas emprestam ao mercado entre os meses de dezembro a fevereiro, não existe em julho, por exemplo. Também não é possível captar a beleza que são os barcos chegando das diversas ilhas pra descarregar o açaí noite adentro. Parece uma legião de vaga-lumes no meio da escuridão. São as luzes dos barcos que se aproximam pelo rio.
Bem, adoro ler, mas nada, nada mesmo se compara a estar lá. Seja lá onde for.