sexta-feira, 27 de março de 2009

Curiosidades da nossa língua


Recebi o tão esperado VOLP, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portugesa, com a adaptação ao acordo ortográfico que a Academia Brasileira de Letras acabou de fazer. Não se trata de um dicionário, mas de uma lista de 340 mil verbetes com a forma correta de grafar as palavras.

Bom, folheando o VOLP pra tentar entender um pouquinho das novas regras para o uso do hífen, encontrei coisas curiosíssimas. Imaginem vocês que existe cerca de 300 tipos de capim. Isso mesmo. Querem uns exemplos? Capim-gigante-das-baixas, capim-de-andar, capim-de-frei-Luis, e por aí vai. E formiga-de-quatro-picadas? E a fava-de-santo-inácio-falsa? E a crejeira-do-peru? E o gafanhoto-soldado? E o que dizer da grama-ordinária? Essa nossa língua é curiosa demais!

O feijão, por sinal, tem aos montes. Encontrei alguns nomes mais que interessantes: feijão-mãezinha, feijão-bravo-mata-cabrito, feijão-sem-rival, feijão-cem-por-um, feijão-cabelo-da-índia, feijão-come-se-tudo, feijão-de-pombinha etc.

E vou continuar folheando as 970 páginas do dito VOLP atrás de mais surpresas.

terça-feira, 17 de março de 2009

Medo de cidade grande

Recebi de um amigo um link do curta-metragem L'Animateur que venceu o festival de Berlim no ano passado e me lembrei de um alemão que conheci há alguns anos aqui em São Paulo. Ele estava passando alguns dias na cidade e nos conhecemos num show no Vale do Anhangabau. Ele me dizia que estava desesperado pra ir embora pra casa. Mas por quê? Mal acabou de chegar e já quer ir embora? perguntei. Então ele me contou que morava nos arredores de Colônia, uma cidade alemã com menos de um milhão de habitantes. Naquele lugar aberto, no Vale do anhangabaú, rodeado por uma verdadeira multidão, ele se sentia meio desnorteado. Estava meio em pânico de estar no meio de tanta gente.

Pra pessoas como eu que já superaram o medo da cidade grande ou que nasceram nela, nenhum problema, mas dá pra entender aqueles que vivem em pequenas cidades e que nunca foram até a capital de seu estado. Cansei de conhecer pessoas do interior do Ceará ou da Bahia que não conheciam Salvador. Pra alguns era o medo; pra outras, faltou oportunidade; e pra outras, ainda, faltou motivo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Os muitos sons de São Paulo


Durante duas semanas estive viajando pelo Ceará. Fui a Fortaleza, Canoa Quebrada e Jericoacorara. Jeri ficou por último e talvez por isso mesmo eu esteja sentindo seus efeitos até agora. Naquele lugar a gente fica mais introspectivo, contemplativo. O silêncio que cerca aquelas dunas e lagoas ficou impregnado em mim.

Ao chegar em São Paulo, comecei a achar tudo muito barulhento. Pensei: é só agora, na volta; logo, logo me acostumo. Porém, não está fácil. Da minha janela no trabalho, ouço as buzinas de carros e motos, sirenes de ambulâncias, bombeiros, polícia, motoristas que brigam enquanto o farol não abre. Acho que nunca me senti assim no retorno de minhas viagens. Nem mesmo quando fui conhecer as geleiras no Chile, onde o silêncio e a temperatura estão muito abaixo de zero. Sinal de velhice? Pode ser.

Mas se essas características da cidade passam a incomodar, o que fazer? Mudar? Mas pra onde? Essa deve ser uma pergunta que muitos paulistanos devem se fazer todos os dias. A cidade não tem praia, nem lagoa, nem parque suficiente, mas por outro lado, onde se encontra tanta diversidade cultural e de lazer? Então, como tudo na vida, essa é uma questão de escolha. Tentar aproveitar ao máximo o que a cidade pode oferecer e ao mesmo tempo, tentar relativizar esse lado negativo dos grandes centros. Acho que o caminho é por aí.

A vendedora de crochê


Nas viagens encontramos algumas figuras muito especiais. Trombei com uma delas numa lagoa em Jericoacoara. Estava a 35 quilômetros do povoado de Jeri, na beira de uma lagoa, e na mesa ao lado, ouvia a voz de uma garota: "você vai ficar linda com essa blusa", "Esse xale é perfeito pra você". Fiquei curiosa e olhei pra garota. Charmosa e despachada, ela se chama Julie e é vendedora de crochê que sua família faz nas redondezas. A coisa mais incrível é que ela tinha resposta pra tudo. "Ah, sua irmã é gorda? Então, essa blusa vai dar certinho nela" enquanto falava, ia remexendo um saco plástico enorme onde estavam blusas, saídas de praia, toalhas de mesa etc. Quando encontrava o que procurava, levantada o objeto e dizia: "Não disse que ia dar certinho nela?" E por aí seguiu a Julie. Pensei: imaginem se essa garota tivesse chance de estudar, seguir uma carreira? Ia longe, sem dúvida.