Alguém comentou comigo sobre um artigo de alguém, publicado em algum lugar (parece que a memória anda fraca?), que falava sobre o cheiro da comida de casa. Coincidiu que eu estava lendo o livro A morte do Gourmet, que conta a estória de um crítico gastronômico que descobre ter pouco tempo de vida e começa a tentar descobrir qual foi a comida que mais o marcou.
Bem, tudo isso pra dizer que na casa da minha família, quando se fazia a comida de “festa” como sushi, sashimi e outras comidas frias, poucos cheiros ficavam pelo ar. Exceções para o gengibre ralado e o caldo de shoyu no qual se cozinhava umas tiras de nabo hidratado que se usava pra rechear o maki-zushi (aqui popularizado como “pneu” porque o arroz vem enrolado na alga).
Mas alguns cheiros e gostos da infância e da adolescência a gente nunca esquece mesmo. O arroz era cozido na panela especial, elétrica, e quando a gente abria a tampa, subia aquela nuvem de vapor, super cheiroso. Arroz branco, grudadinho (o famoso Unidos venceremos!), servido nas tigelinhas pra servir de base para o okazu (mistura).
Inesquecível mesmo era o carê (creme de curry) que minha mãe fazia e que por muitos anos depois de todos termos partido pra tocar nossas vidas, continuávamos pedindo pra ela fazer. Numa panela ela cozinhava carne moída, cenoura e batata em cubinhos e depois engrossava com uma mistura de curry e farinha de trigo tostados. Lembro que era bem apimentado. Pegávamos com uma concha e cobríamos o arroz bem quente. Era uma comida dos deuses. Me deu até água na boca, só de lembrar!
O pior mesmo é que na vida adulta a gente fica perseguindo esses gostos e cheiros e dificilmente encontra. Vejo amigas que tentam agradar seus companheiros fazendo um prato mais que comentado e no fim ouvem o famoso “não é igual ao da minha mãe, mas tá bom” Não soa como prêmio de consolação?
2 comentários:
Andarilha, adquiri ainda hoje o livro que você menciona. E quanto aos sabores de casa, li duas ou três colunas da Nina Horta que falavam de cheiros da praia da própria infância dela. Eu tenho alguns marcados na memória gustativa: o de pão feito no forno de barro em folhas de bananeira pela minha avó paterna e um doce de leite imbatível feito pela minha avó materna. E ainda um frango de panela de uma tia que nunca mais senti gosto equivalente. Beijo!
Caro Red,
e por falar em doce de leite imbatível, no sábado fui com três amigos ao Mocotó, a "casa do Norte" do Rodrigo Oliveira. Depois de muitas entradinhas, almoçamos o atolado de bode e pra fechar nosso ótimo almoço, pedimos as sobremesas tradicionais (doce de leite, doce de mamão, cocada etc.). O tal doce de leite, te juro, nunca tinha comido nada igual. Um deleite. Deve ser parecido com o que sua avó fazia. E pra fechar com chave de ouro, tomamos uma espécie de licor de cachaça com favas de baunilha, chamada Princesinha. Dos deuses! Dia lindo, conversa boa, comida ótima. O que mais um ser humano pode esperar dessa vida?
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