Nos últimos dias, o papel da televisão tem sido questionado em diversas frentes. Laurindo Leal Filho escreveu o artigo "Tempo como serviço, não como espetáculo", no qual fala sobre os programas televisivos de previsão do tempo que exibem lindas modelos/atrizes/jornalistas com suas curvas acomodadas em modelos de última moda. Enquanto isso, precipitações gigantescas aconteceram e esse serviço televisivo não foi de nenhuma serventia para prevenir as catástrofes que estamos vendo como espetáculo nas emissoras de TV.
Tratamento de espetáculo também é dado a desastres, crimes e desventuras dos seres humanos que vivem sobre a Terra. Quem se lembra do "Aviso aos navegantes" da Voz do Brasil? Lalo lembra que esse programa evitou que muitas embarcações fossem a pique.
De outro lado, temos um movimento social que alerta ao Ministério Público Federal o incitamento à violência, feito pelo diretor do programa Big Brother da Tv Globo. Segundo Boninho, nessa edição do BBB está liberada a pancadaria. É essa a TV que queremos? Educando para a violência? Na Nota de Preocupação e Repúdio encaminhada à Drª Gilda Carvalho, do MPF,
"Acreditamos que, por ser uma concessão pública, e pela sua importância como educadora informal, pelo respeito devido aos telespectadores, cabe à televisão se pautar pelos mais altos interesses da sociedade e pela responsabilidade social que o poder que detém com a concessão lhe confere.
Não nos interessa a banalização da violência na mídia, que tem servido de estímulo para a sua reprodução na sociedade em que vivemos, numa espiral infernal que nos distancia do modelo de sociedade livre de violência na qual gostaríamos de viver.
A violência contra a mulher é um mal que queremos erradicar, pelo que temos militado há décadas. Os acordos e protocolos internacionais firmados pelo Brasil, a luta implementação da Lei Maria da Penha veio coroar os nossos esforços no sentido de tentar inibir tal violência. Seria portanto altamente prejudicial e contraditório que a mídia estimulasse a violência, tão-somente para melhorar os seus próprios índices de audiência! As mulheres querem, merecem, precisam e têm o direito de viver numa sociedade livre de violência de gênero e de qualquer forma de opressão.
Nos parece igualmente prejudicial a nossos interesses, caso a mensagem do Boninho não vise estimular a violência contra as mulheres, mas “a pancadaria” entre os homens.
A banalização e espetacularização da violência tem servido de estímulo para mais-violência na sociedade. Como mães, namoradas, filhas, companheiras, irmãs, amigas, mulheres em geral, não somos a favor da violência – nem entre os gêneros, nem intra-gêneros. Não vemos o menor sentido em “liberar a pancadaria” num programa de grande audiência, sabedoras que somos do estímulo que isso representa para os jovens e adultos.
As masculinidades não devem ser medidas pela violência e é importante ter em mente que não podemos oferecer tais modelos, para muitos jovens que se identificam com esse programa. Finalmente, dizem bem os psicólogos sobre a contribuição destas cenas na formação da subjetividade das crianças, quando não também dos adultos – motivo de nossa preocupação."